sexta-feira, 9 de abril de 2010

FOGUEIRA DAS VAIDADES

Encontrei no meio da cidade, em São Paulo, por acaso a Maria José. Estudamos juntas na Faculdade e moramos juntas no mesmo Pensionato de freiras. Uma festa, não nos viamos havia muito tempo. Sentamos-nos num Café para conversar. O assunto acabou caindo em Dança do Ventre por causa da minha atividade atual e também porque nós dançávamos muito nas Festas da USP quando cursávamos o Curso de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas e ela era sempre a mais animada. Tinha um sentido rítmico muito bom, batucava direitinho nas rodas de samba, dançava bem, com graça e criatividade.
- Pois é - me disse - eu fiz Dança do Ventre por um tempo mas desisti. A professora não disse claramente que eu era desajeitada, não acompanhava a turma na mesma batida. Acho que ela até ficou aliviada quando eu saí porque as outras meninas mostravam impaciência com a minha dificuldade e ela não dizia nada.

- Quanto tempo você ficou?

- Uns três meses. Me encantei com o universo da DV, comprei trajes, véus. Ficava maravilhada vendo a professora dançar, mas por mais que eu corresse atrás não consegui aprender e parei.
- A professora nunca sugeriu a você exercícios para fazer em casa, para melhorar as partes com as quais tinha dificuldades?
- Não. Ela era jovem, não tinha muita paciência comigo e menos ainda com as minhas dificuldades. Tudo bem acho que ela tinha razão.

- Puxa, que pena! E você não dançou mais?

-Danço, é claro! Eu e o Luiz, meu marido dançamos nos fins de semana no Clube Piratininga, no Avenidas! É muito bom. Nós arrasamos no tango.
Depois que nos despedimos eu fiquei pensando: - Arrasa no tango e não conseguiu aprender DV?
Dançar e ensinar a dançar são coisas muito diferentes. O  nosso meio de Dança do Ventre é fascinante para quem dança e tem uma aura de mistério que mexe com a imaginação das pessoas, homens e mulheres. Quem dança o faz com paixão, se mata de estudar e de se exercitar. Compra trajes, adereços, gasta o que pode e o que não pode parcela. E sonha viver da sua arte, tornar-se profissional, fazer muitos e muitos shows, dançar fora do país. Mas sabemos que no Brasil e também fora poucos são os artistas, em todas as áreas, que podem viver só de shows e apresentações com cachê. E a nossa paixão é tão grande que os organizadores de mostras de Dança do Ventre sabem que nos dançamos só pelo prazer de fazê-lo. Nós pagamos para dançar e eles cobram de quem vem nos assistir. E nem reclamamos!
  E na nossa a paixão é tão grande que os organizadores de mostras de Dança do Ventre sabem que nós dançamos, só pelo prazer de fazê-lo. Nós pagamos para dançar e eles cobram para as pessoas nos verem. E nem reclamamos!
Mas então a saída para muitas é dar aulas. O fato de falar português desde pequeno não habilita ninguém a dar aulas do idioma mas toda bailarina acha que pelo fato de dançar, de ter aprendido a dançar é condição para ensinar. Como não existe uma rotina  pré estabelecida, como no ballet clássico, parece muito fácil. 
É claro que muitas procuram aprender COMO ensinar antes de achar que é professora. Fazem cursos com professoras experientes, estágios, workshops, investem em materiais didáticos, observam, perguntam, procuram supervisão. Têm a humildade de procurar conhecimento. Investem tempo, dedicação e dinheiro.
Entretanto há muitas que sentem uma grande necessidade de auto-afirmação e querem provar às suas alunas que elas dançam bem. Mostram o que sabem mas só mostrar não é o mesmo que ensinar! E as pobres alunas, que começam inseguras  - como todo mundo que se inicia numa coisa nova - tentam desesperadamente seguir a mestra. E acabam achando que nunca conseguirão que são desajeitadas e não têm jeito para a coisa, como a minha amiga que desistiu mas dança tango! As que têm mais facilidade continuam e dão um jeito de aprender por seus próprios meios.
  Mas eu me preocupo com as primeiras, as que precisam de mais tempo, de mais didática, de mais incentivo, de atenção especial até conseguir deslanchar. Na sala de aula é importante ser professora e não bailarina. A bailarina até dança com as suas alunas em apresentações mas na aula ela tem que ensinar, observar, saber intervir, exigir quando necessário, deixar passar para corrigir mais à frente, mediar conflitos que surgem entre alunas. E não é com duas aulas por semana e dois anos de aula que alguém se torna professora. Tem gente com experiência de anos, que dá aulas, mas continua fazendo suas aulas com mestras mais experientes.
O premio é ver as alunas  dançar, voar, flutuar. Isso vale tudo!



2 comentários:

  1. Oi Wanda! Tdo bem?
    Adorei seu texto mulher, tá de parabéns!!!
    Um forte abraço,
    Rebeca.

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  2. Obrigada Querida. Pois é, tem que acima de tudo amar o que faz.BJKS. Wanda

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